segunda-feira, 19 de maio de 2008

e04-comunidades Virtuais

1-Para Tönnies uma teoria da comunidade teria que adensar fundamentalmente sua
raiz nas disposições gregárias estimuladas pelos laços de consangüinidade e afinidade
(sejam relações verticais entre pais e filhos ou horizontais entre irmãos e vizinhos), se
caracterizando pela inclinação emocional recíproca, comum e unitária, pelo consenso e o
mútuo conhecimento íntimo. Postulou assim o que seriam suas “leis principais”:
a) parentes, cônjuges, vizinhos e amigos se gostam reciprocamente; b) entre os que se gostam
há consenso; c) os que se gostam, se entendem, convivem e permanecem juntos, ordenam
sua vida em comum.
Partindo destes princípios de convivialidade, registrou a existência de três padrões
de sociabilidade comunitária: os laços de consangüinidade, de coabitação territorial e de
afinidade espiritual, cada qual convergindo para um respectivo ordenamento interativo,
como comunidade de sangue (parentesco), lugar (vizinhança) e espírito (amizade).
http://scholar.google.com.br/scholar?as_q=+no+mundo+material&num=10&btnG=Pesquisar+no+Google+Acad%C3%AAmico&as_epq=+comunidades+&as_oq=&as_eq=&as_occt=any&as_sauthors=Ferdinand+Tonnies&as_publication=&as_ylo=&as_yhi=&hl=pt-BR&lr=lang_pt

2-Tönnies ainda classificou as relações comunitárias, segundo sua forma, em três
tipos: a) as relações autoritárias, de modo geral predominantes, repousando na
desigualdade de poder e querer, de força e autoridade (o modelo ideal seria a relação entre
pais e filhos); b) as relações de companheirismo, com origem na isonomia geracional
(relação entre irmãos); c) e as relações mistas, que combinariam as duas formas (relação entre cônjuges).
Estes padrões de relações comunitárias se realizariam territorialmente através de
três núcleos espaciais: a casa, a aldeia e a cidade. Ainda que se possa ponderar a
predominância da sociabilidade de família na casa, de vizinhança na vila, e de afinidade
espiritual na cidade, enquanto formas comunitárias de sociabilidade, Tönnies imaginava os
três padrões imbricados em cada uma de suas extensões espaciais, de maneira que a cidade,
enquanto o possível locus mais evoluído desse esquema, compartilharia a seu modo de
todos os elementos das formações sócio-espaciais precedentes, pelo menos em um primeiro
momento, e em uma morfologia mais rudimentar. Porém admitia que na cidade a
irmandade profissional seria a mais alta expressão da idéia de comunidade.
Da passagem do modo de vida rural para o urbano teríamos o desencadeamento de
uma ruptura na organização destes núcleos de sociabilidade. Quanto mais multiplicava a
vida da cidade, ou seja, à medida que o mercado estimulava o desenvolvimento
hipercefálico da urbe, mais perdiam forças os círculos de parentesco e vizinhança como
motivos de sentimentos e atividades amistosas.
A característica dessa sociabilidade é dada fundamentalmente pelo registro dos
efeitos do comércio como ocupação econômica de maior peso e visibilidade sócio-cultural.O dinheiro, como equivalente geral, igualmente é um elemento importante na
estruturação desta sociabilidade societária e urbana, pois aprofunda um estado de isonomia
social sem precedentes, podendo ser tudo e todos (pessoas, lugares, objetos, posições de
prestígio) por ele cambiável.
A sociedade, na argüição de Tönnies e na esteira de Marx, se constituiu
essencialmente sob a hegemonia dos capitalistas e para a sua plena realização enquanto
classe. A cidade é desta maneira o berço da burguesia e o lugar por excelência da
exploração da classe trabalhadora.

http://scholar.google.com.br/scholar?as_q=+no+mundo+material&num=10&btnG=Pesquisar+no+Google+Acad%C3%AAmico&as_epq=+comunidades+&as_oq=&as_eq=&as_occt=any&as_sauthors=Ferdinand+Tonnies&as_publication=&as_ylo=&as_yhi=&hl=pt-BR&lr=lang_pt


3- Comparando os dois conceitos(ou os dois conjuntos de definições sobre os dois termos), verifica-se que o conceito de comunidade virtual nada mais é que uma evolução do conceito tradicional de comunidade.Pode-se fazer uma comparação entre alguns elementos presentes em ambos conceitos (ou ambos conjuntos de definições):
- O lugar que antes era a vizinhança, limitado ao espaço geográfico, em uma comunidade virtual é o ciberespaço.
- A idéia já levantada na definição tradicional de assuntos de interesse comum continua existindo.
- Um dos elementos base para a existência de uma comunidade continua o mesmo: pessoas se relacionando, trocando informações, se comunicando,porém em uma comunidade virtual isto é feito através de computadores.
Uma diferença entre uma comunidade virtual para a comunidade tradicionalestá no processo de formação do laço de afinidade social, conforme afirma Fernanda Pizzi:"Nas comunidades virtuais, o processo de formação do laço deafinidade social sofre uma espécie de inversão. Se, na vidareal, estamos acostumados a encontrar fisicamente aspessoas, conhecê-las pouco a pouco, identificando, à medida que se aprofunda o conhecimento, áreas de interesse comum e interagindo em função delas, nas comunidades virtuais o processo se inverte: interagimos primeiro em função de interesses comuns previamente determinados, conhecemos as pessoas e, só então conhecemos fisicamente essas pessoas."(PIZZI, 2000, p. 3)
Sobre esta união de comunidade e tecnologia, Schuler (1996, online) afirma que há uma aparente tensão, uma vez que persistem os estereótipos de que“comunidades são quentes e acolhedoras, enquanto tecnologia é fria, indócil,misteriosa e perigosa”.
Entretanto, para Szczepanska (2001, p. 9), “o virtual não está separado do‘mundo real’. O que acontece em um contexto virtual será interpretado através de nossas experiências da realidade física dos capitais social e cultural que trazemos conosco”.Para Cynthia Typaldos (2000b, online), comunidades virtuais e comunidades do mundo real não são diferentes. “Não estamos mudando a natureza humana; estamos apenas mudando as ferramentas de comunicação”.
(http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/9428.pdf)

4-Os blogs trazem a construção de uma rede de relações, construções e
significados. O leitor de um texto, por exemplo, é convidado a verificar a sua fonte
(através de um link), observa a discussão em torno do assunto (através dos
comentários), é convidado a ler outros textos que tratam do mesmo assunto em outros blogs (através do trackback) e pode, inclusive, fazer suas próprias relações através de
uma participação ativa como comentarista ou como blogueiro, em seu próprio blog.
O leitor pode, deste modo, interferir no texto do blogueiro, completando-o
ou construindo-o. Essa rede de relações que permeia a rede dos blogs poderia
representar as associações que todos os blogueiros e internautas realizaram ao ler o
mesmo texto, apresentando suas próprias contribuições, como notas escritas em um
livro. Essas notas, representadas pelas opiniões e comentários das pessoas formam
intrincadas trilhas hipertextuais dentro da própria Rede, que são constantemente
modificadas e trabalhadas pelos autores que lerão o texto em seguida. Cada internauta
pode, portanto, observar as associações dos outros leitores e colocar também as suas.
Trata-se, deste modo, de uma construção coletiva.
De acordo com Landow (2003, online), a intertextualidade é uma
característica fundamental do hipertexto. Ele explica que o hipertexto oferece ao leitor
e ao escritor o mesmo ambiente, permite que alguém tome notas e escreva contra ou a
favor de outros textos. Entretanto, não permite que um texto já publicado seja
modificado por terceiros. Os blogs não são, portanto, sempre uma forma de
construção coletiva onde todos possuem poder. Muitas vezes, trata-se de um texto
escrito coletivamente, mas de uma rede de significações coletiva agregada a um texto
individual. Em alguns blogs, no entanto, a construção coletiva é possível. Apesar de,
na maioria dos vezes, o blog ser uma construção de um único indivíduo que tem o
privilégio de modificar os textos dos posts, existem também os weblogs coletivos,
onde todos os autores podem, se desejar, mudar o texto publicado. Neste caso, é um
texto escrito, efetivamente, por vários autores, todos com as mesmas ferramentas.
Quaisquer dos autores tem possibilidade de modificar o texto publicado por outro e
mesmo complementá-lo através de observações no próprio corpo do texto. Muitos
desses weblogs coletivos são, também, virtual settlements de comunidades virtuais.
http://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&lr=&cluster=3368589726659424535

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